Pesquisador entrega máquinas fotográficas e de vídeo
para crianças de uma creche e evidencia as diferenças entre a
perspectiva infantil e adulta
Marta Avancini
Marta Avancini
O que acontece se dermos câmeras fotográficas e de vídeo para crianças
de uma creche? Este foi o ponto de partida de uma pesquisa desenvolvida
pelo psicólogo César Donizetti Pereira Leite, que atua como professor e
pesquisador da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro.
Durante sete meses, crianças de uma creche de Rio Claro produziram 3,5 mil fotos e 17 horas de filmagem. Também foi feito um making of das crianças fotografando e filmando.
“As imagens produzidas pelas crianças nos desamparam, pois colocam em xeque os sentidos convencionais, propondo outros olhares para o espaço e o tempo”, analisa o pesquisador. “As crianças dão visibilidade a coisas que passam despercebidas por nós adultos.” Ou seja, são imagens aparentemente sem sentido, que não remetem aos sentidos convencionais propostos por filmes comerciais, explica Por exemplo, uma das crianças fotografou os cadeirões usados na creche. Mas a imagem só mostra os pés dos cadeirões. Em contrapartida, a foto de uma professora que estava acompanhando a criança captou os cadeirões inteiros. “Essa diferença evidencia, de maneira muito clara, que crianças e adultos veem as coisas de maneiras diferentes.” Outro exemplo: uma criança fotografou um pente, que estava caído no chão. “Um adulto não faria esta foto. A reação mais provável do adulto seria tirar o pente do chão para que nenhuma criança tropeçasse ou o colocasse na boca.”
Mais do que a diferença, enfatiza o pesquisador, os adultos precisam fazer um esforço para conseguir enxergar o mundo a partir da perspectiva de uma criança. Nesse sentido, os filmes e fotografias produzidos pelas crianças trazem, então, indicações de como elas enxergam o mundo Leite aponta que essa discrepância de olhares e sentidos atribuídos aos objetos e situações do cotidiano da creche não se esgota em si mesma, remetendo a questões centrais na área de educação, como o currículo.
Geralmente, na educação infantil os currículos são construídos tomando como referência os estágios do desenvolvimento infantil. Esta, porém, é uma visão linear do tempo, pontua o psicólogo, que acarreta a construção de um currículo muitas vezes distante e destituído de sentido para a experiência da criança “As imagens feitas pelas crianças remetem a um tempo do acontecimento e a uma ideia de ocupação do espaço diferente da maneira como os adultos o planejam”, aprofunda Leite Nesse sentido, os resultados da pesquisa podem ajudar a nortear a construção de currículos e espaços escolares mais afinados com a percepção e a perspectiva das crianças – o que já está ocorrendo na rede municipal de Rio Claro, onde Leite está coordenando uma série de discussões com técnicos da secretaria de Educação.
Durante sete meses, crianças de uma creche de Rio Claro produziram 3,5 mil fotos e 17 horas de filmagem. Também foi feito um making of das crianças fotografando e filmando.
“As imagens produzidas pelas crianças nos desamparam, pois colocam em xeque os sentidos convencionais, propondo outros olhares para o espaço e o tempo”, analisa o pesquisador. “As crianças dão visibilidade a coisas que passam despercebidas por nós adultos.” Ou seja, são imagens aparentemente sem sentido, que não remetem aos sentidos convencionais propostos por filmes comerciais, explica Por exemplo, uma das crianças fotografou os cadeirões usados na creche. Mas a imagem só mostra os pés dos cadeirões. Em contrapartida, a foto de uma professora que estava acompanhando a criança captou os cadeirões inteiros. “Essa diferença evidencia, de maneira muito clara, que crianças e adultos veem as coisas de maneiras diferentes.” Outro exemplo: uma criança fotografou um pente, que estava caído no chão. “Um adulto não faria esta foto. A reação mais provável do adulto seria tirar o pente do chão para que nenhuma criança tropeçasse ou o colocasse na boca.”
Mais do que a diferença, enfatiza o pesquisador, os adultos precisam fazer um esforço para conseguir enxergar o mundo a partir da perspectiva de uma criança. Nesse sentido, os filmes e fotografias produzidos pelas crianças trazem, então, indicações de como elas enxergam o mundo Leite aponta que essa discrepância de olhares e sentidos atribuídos aos objetos e situações do cotidiano da creche não se esgota em si mesma, remetendo a questões centrais na área de educação, como o currículo.
Geralmente, na educação infantil os currículos são construídos tomando como referência os estágios do desenvolvimento infantil. Esta, porém, é uma visão linear do tempo, pontua o psicólogo, que acarreta a construção de um currículo muitas vezes distante e destituído de sentido para a experiência da criança “As imagens feitas pelas crianças remetem a um tempo do acontecimento e a uma ideia de ocupação do espaço diferente da maneira como os adultos o planejam”, aprofunda Leite Nesse sentido, os resultados da pesquisa podem ajudar a nortear a construção de currículos e espaços escolares mais afinados com a percepção e a perspectiva das crianças – o que já está ocorrendo na rede municipal de Rio Claro, onde Leite está coordenando uma série de discussões com técnicos da secretaria de Educação.
PESQUISA HOJE
Pesquisa: Infância, pesquisa e experiência: reflexões e olhares para o desenvolvimento infantil a partir de produções imagéticas de professores e crianças
Pesquisa: Infância, pesquisa e experiência: reflexões e olhares para o desenvolvimento infantil a partir de produções imagéticas de professores e crianças